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Seraphina e Sangue de Dragão: uma duologia intrigante

Começo esse post com certa relutância. Primeiramente por ser a primeira resenha que escrevo no blog, o que aumenta a minha ansiedade a respeito do possível feedback que receberei. E em segundo, pelo fato que decidi inserir essa nova categoria para tentar exercitar (ainda mais) a minha memória.
De uns anos pra cá, tenho tido lapsos de memória vergonhosos, diga-se de passagem. Por vezes, enquanto leio (mas com a cabeça lá na morte da bezerra), sem querer deixo passar coisas importantes, e preciso reler frases ou até mesmo páginas anteriores. Até li uma matéria esses tempos, a qual informava que isso infelizmente é normal nessa nova geração “multitasking”, o que atrapalha não apenas a produtividade no trabalho, mas a satisfação das atividades que fazem parte do nosso lazer.
Enfim, normal ou não, a partir de agora postarei resenhas sempre que possível, seja de livros, graphic novels, séries, ou o que for. E como esse é um blog pessoal, eu simplesmente não consigo iniciar o post sem antes ter essa intro com uma troca mais intimista com vocês, para explicar as minhas motivações, hehe ♥

Para os amantes de literatura fantástica, Seraphina tem tudo para ser um prato cheio. Com uma história rica tanto em personagens, quanto no desenvolvimento da trama em si, intriga a curiosidade do leitor a respeito do universo que oferece.

Já li vários livros sobre fantasia – um dos meus gêneros favoritos, inclusive – mas ainda não havia lido nada sobre dragões. Bastou a ilustração da capa para me fazer viajar, e este foi o gatilho que fez com que eu comprasse o livro imediatamente. Porém, a narrativa completa e fascinante da história conseguiu me surpreender ainda mais.
A história se passa no reino medieval de Goredd, e por reino medieval você já pode esperar por cavaleiros e cortesões, reis e rainhas, roupas descritas como da época renascentista, e uma sociedade que é mantida em “ordem” através de hierarquias da corte real e da igreja. Mas poderia esse reino continuar a ser povoado pacificamente por humanos e dragões?

Nossa protagonista, Seraphina Dombegh, é uma garota de 16 anos, com um talento incrível para a música – tanto que torna-se assistente do compositor da corte real, logo após uma tragédia, a qual explicarei mais adiante.
Mas o talento musical não é sua única característica principal. Seraphina é mestiça, ou seja, meio humana e meio dragão, fruto da relação de seu pai (humano), e sua mãe (dragão). Mas antes que você se pergunte como isso é possível, nesse universo os dragões podem mudar de forma e se passar por humanos. Contudo, nessa forma eles não são capazes de sentir e compreender as emoções humanas, de modo que a própria arte em si é algo superficial para os mesmos. Por outro lado são muito inteligentes, o que os garante ocupações como matemáticos, professores e inclusive estudiosos renomados.
Pelo segredo que carrega, Seraphina sempre se manteve discreta, de modo a não chamar atenção para si ou para o admirável talento que possui, o qual fora herdado de sua falecida mãe. Mas grande parte dessa reclusão se deve ao seu pai, que pelo medo de vir a tona a identidade de sua filha e acharem-na uma aberração, acaba sendo imponente com ela, causando intermináveis desentendimentos entre ambos.

fanart por: mintychocolatelover

Perto do aniversário de 40 anos do tratado de paz em Goredd – que permitiu por todos esses anos que humanos e dragões vivessem em harmonia – o Príncipe do reino é assassinado de tal forma, que as características de sua morte levam a crer que o autor do crime tenha sido um dragão. Essa tragédia serviu inclusive para aflorar mais ainda o preconceito e ódio escondidos no povo, algo que se manteve presente mesmo após tantos anos de vivência conjunta.
A partir daí a trama se complica, e Seraphina desempenha um papel importante na investigação para descobrir o assassino, pois ao que o relacionamento dela com seu instrutor e tio Orma indica, a morte do Príncipe pode estar ligada à ela de certa forma. E nessa de se colidir com dois mundos e tentar fazer a coisa certa para ambos, Seraphina se vê sobrecarregada e luta para inclusive lidar com seu próprio eu. Sua origem mista lhe deu capacidades sensitivas especiais, tanto para seu lado humano, quanto para seu lado dragão.

Sem dúvida, o que eu mais gostei nesse livro foi a riqueza de detalhes e de personagens que a autora descreveu. Mas diria que é um desafio e tanto (ao menos pra mim foi), pois a impressão que tive, foi de que várias coisas aconteciam com uma quantidade absurda de informações extras, sendo que havia muito a ser explicado ainda. Isso é bom e ao mesmo tempo ruim, pois tornou a minha leitura mais lenta, de modo que eu não consegui devorar o livro com tanto entusiasmo, ao menos no começo. Pois, ao mesmo tempo em que a história acontecia, a autora tinha que: apresentar como esse universo de dragões que ela criou funciona, de que forma o reino e a sociedade eram compostos, as peculiaridades de cada personagem, os inúmeros santos que existem, as expressões reais, o relacionamento complexo de Seraphina com seu tio Orma e da mesma com as memórias de sua mãe, etc. Eu levei um tempo pra conseguir um ritmo de leitura. Mas em contrapartida isso me instigou a não desistir da leitura e conhecer/entender melhor esse universo fantástico.

O segundo e último livro é tão complexo quanto o primeiro, mas devo dizer que essa continuação fez um pouco mais o meu estilo, por ter um toque meio sombrio e com inúmeras reviravoltas de pirar o cabeção.
É incrível a forma que a autora explora a personagem principal, a profundidade que ela desenvolve a mesma ao longo do primeiro livro para o segundo. A mente e a imaginação são fatores trabalhados na história o tempo inteiro. Ok, sei que parece bobo mencionar sobre algo tão óbvio quanto a imaginação, já que trata-se de fantasia, mas esse é um tema ilustrado de modo fantástico (se me permitem o trocadilho) na concepção dessa trama.


Motivos SUPER VÁLIDOS para você se aventurar nessa leitura:

– Há muitas personagens femininas fortes e com qualidades incríveis;
– Demonstração de igualdade de gênero nos papéis desempenhados;
– Inclusão de um personagem homossexual e de um personagem transgênero, sendo que a forma que eles são apresentados nos ensina que eles são muito mais do que as suas características demonstram;
– Enriquecer o seu vocabulário: você vai girar os olhos e dizer que qualquer livro te proporciona isso, mas a quantidade de palavras novas (e difíceis) que eu aprendi ao ler os dois livros é assustadora! Alguns exemplos: libação, cotovia, avuncular, estoicamente, miasmática, circunspecto, panaceia; entre outras xD
– A lição de que ser diferente não é uma coisa ruim, independente do que a sociedade diz;

Por fim, acredito que a história possa agradar vários níveis, pois dentro desse universo fantástico há suspense, romance, lições de amizade, violência, drama… e várias rugas na testa. É o tipo de livro que te prende, mas que também te dá a sensação de que você não absorveu tudo que ele oferece, e para compreensão total precisaria lê-lo mais uma vez.

Uma curiosidade: aparentemente, Rachel Hartman, a autora do livro, escreveu Seraphina enquanto escutava rock com gaita de foles bretã, polifonia italiana medieval, metal progressivo, música barroca latino-americana e música tradicional irlandesa. Então taí a explicação do porquê essa duologia é tão carregada e tão maravilhosamente diversa ao mesmo tempo ♥ .

Priih

Priscila Cardoso (프리실라 카르도스), ou apenas Priih. 29. Inconstante em muitos níveis e intensa igualmente. Escreve incontroladamente sobre tudo e tagarela sobre a Coreia desde 2008. Descobre novas paixões a cada dia e não dispensa livros, música e uma boa caneca de café.
  • Mari

    Amei o post, você devia escrever mais resenhas por aqui. Eu nem imaginava sobre o que era Seraphina, mas sempre achei a capa linda e agora, que você contou um pouco mais sobre a história, fiquei bem interessada no livro. A ideia de uma mestiça meio humana meio dragão é maravilhosa, perfeita para um trama cheia de fantasia. Essa fanart também é linda. <3
    Beijos
    Mari
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    15 de maio de 2016 at 16:05 Responder
  • Flavi - Memórias de uma Guerreira

    Opa, eu vi a palavra Dragão?
    Vim correndo ahahhaha sinto cheiro de longe! Se eu pudesse eu teria todos livros do mundo que falam sobre dragões, uma pena que meus dias parecem ter 12 ao invés de 24 horas. Nunca tenho tempo pra nada. =(

    15 de maio de 2016 at 12:02 Responder
  • Clayci

    A única coisa que eu posso dizer é que espero mais resenhas por aqui, porque adorei esta!
    Eu amo fantasia fantástica e te achei muito sincera na crítica. Estou acostumada com livros cheios de informações, e quando junta isso com um narrador que consegue transformar uma cena em porre? (Fui eu, lendo Eragon haha).

    Mesmo assim fiquei com vontade de ler <3
    Adorei

    14 de maio de 2016 at 19:16 Responder

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